1º DE MAIO, ALGO A COMEMORAR?
A passagem desse Primeiro de Maio em 2021 é uma marca de resistência. Desta vez, resistência não só do ponto de vista da defesa dos salários, da renda e dos direitos trabalhistas por parte de trabalhadoras e trabalhadores e seus sindicatos, mas da defesa da própria vida por parte desse setor social que representa a maioria da população do país.
Os últimos anos têm sido duros para os trabalhadores e trabalhadoras. A economia esteve em recessão em dois períodos (2015-2016 e 2020) e patinou com taxas pífias em torno de 1% ao ano de variação do PIB entre 2017-2019, sinalizando a estagnação. As políticas fiscalistas dos ministros Levy, Meirelles e Guedes arrastaram o país por uma via crucis durante seis anos, inclusive com a malfadada criação e aprovação da emenda constitucional de teto de gastos, com setor produtivo e trabalhadores moendo no áspero. A renda caiu, o PIB per capita caiu ainda mais, e o emprego vem desaparecendo.
No campo político, reformas no arcabouço do tardio estado de bem-estar social esboçado pela Constituição de 1988 cortaram direitos trabalhistas e previdenciários desse setor social. E a visão fiscalista, hegemônica nos governos que se sucederam, para cortar gastos públicos e sinalizar aos aplicadores financeiros que não faltarão recursos para garantir a remuneração de suas aplicações na dívida pública, ao longo desse período aprofundou os cortes nas áreas sociais, exatamente aquelas como saúde, educação e assistência social, das quais depende essa maioria da população brasileira. Assim, quer pela gestão das reformas constitucionais, quer pela gestão orçamentária, o mundo político atingiu também fundamentalmente trabalhadoras e trabalhadores.
Vendo de uma perspectiva mais ampla, o futuro do trabalho também não parece promissor. As mudanças introduzidas pela chamada “Economia 4.0” – como o “Big Data”, a Robótica, os novíssimos materiais, a nanotecnologia, a engenharia genética e outras mudanças tecnológicas, a Impressão 3D, a “Internet das coisas” e a tal “inteligência artificial”, entre outros elementos –, implantadas sob a hegemonia de corporações globais financeirizadas (isto é, regidas pela lógica de absoluto curto-prazo dos capitais financeiros voláteis) aprofundam a subordinação do trabalho e a flexibilização de empregos e rendas.
É curioso que, quando menos dependemos do trabalho humano para a produção de bens e serviços que necessitamos em uma sociedade cada vez mais automatizada, e quando o ser humano poderia liberar sua energia para a criatividade e o foco no que lhe dá felicidade, mais temos que nos voltar ao aprofundamento de relações de subordinação ao trabalho das quais passa a depender a própria sobrevivência humana.
Assim, não parece haver muita coisa a ser comemorada nesse dia de Trabalhadores e Trabalhadoras. Ainda mais em um ambiente em que, a essas dificuldades que já atingiam estruturalmente o mundo do trabalho, se soma uma pandemia que faz um estrago na população mundial, e particularmente no Brasil, em que a pandemia internacional se soma à gestão irresponsável da pandemia pelo governo atual.
Mas, como se costuma dizer, o Primeiro de Maio não é um dia de comemoração, e em tempos de pandemia também não é um dia de luto – é, e sempre deve ser, um dia de luta, de lembrar que a história se move, e que em movimento, organizados e dispostos ao combate, trabalhadoras e trabalhadores podem e devem construir um futuro melhor para si e para suas famílias e seus descendentes.
Desta forma, esse Primeiro de Maio deve servir para conformar uma agenda de temas que possam organizar os embates para a classe trabalhadora no próximo período. Um embate que começa por temas de sobrevivência, como a exigência de vacina e de um auxílio emergencial digno. Mas que seguramente passa por revisões de mudanças constitucionais aprovadas nos últimos anos (como teto de gastos e reforma previdenciária) e reconquista de direitos sociais e trabalhistas perdidos, pela recuperação de uma política de valorização do salário-mínimo, por uma estratégia de recuperação produtiva, redistributiva, de redução das amplas desigualdades existentes no país, e ambientalmente sustentável. Afinal, concentração de renda, perda de empregos, desigualdades de gênero, etnias, regionais e outras, e a degradação do meio ambiente atingem fundamentalmente trabalhadoras e trabalhadores, a maioria da sociedade.
E essa agenda tem que levar em consideração e incluir cada vez mais os temas estruturantes da nova revolução tecnológica, que deve ser vista do ponto de vista de libertar os seres humanos das obrigações do trabalho, e permitir um trabalho cada vez mais criativo. Para produzir tudo o que precisamos, precisamos de fato trabalhar cada vez menos. Por isso, é fundamental discutir a entrada mais tardia no mercado de trabalho (e mais preparação para isso, mais estudo), a saída antecipada do mercado de trabalho (pois se de fato precisamos trabalhar menos, temos que nos aposentar mais cedo, e não mais tarde!), a redução do tempo de trabalho durante a atividade (seja isso representado por jornadas menores, ou menos dias de trabalho) e a fundamental discussão do tempo livre. Tempo livre para estudar, para atividades culturais, esportivas, religiosas, turismo, ou mesmo o ócio.
Esse é um futuro que podemos construir. Mas para isso precisamos começar. Começar a pensar, imaginar, querer. E lutar para poder construir esse futuro.
Fonte: Terapia Politica